Na intercessão entre a psiquiatria e a antropologia, livro reúne ensaios e artigos de Antônio Mourão
Desde
pequeno, Antônio Mourão gostava de ouvir histórias de vida. Ainda
menino, durante as visitas à família do pai, em Crateús, passava parte
do tempo na mercearia de um tio homeopata, que, segundo se dizia na
vizinhança, escolhia o composto adequado.
Tais
experiências, embora precoces, certamente influenciaram o caminho
profissional de Mourão, que não apenas se tornou médico (e escolheu a
psiquiatria como especialidade), mas trilhou caminhos pouco ortodoxos
dentro do campo, a partir de uma segunda formação, em Antropologia. Após
formar-se em medicina na Universidade Federal do Ceará, concluiu
estudos na famosa Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris
(França).
Parte
dessa trajetória pode ser conhecida no livro “Psiquiatria – Outros
olhares”, a ser lançado hoje, na Livraria Cultura. Nele, Mourão explora
principalmente os laços que unem a psique humana aos diferentes
contextos socioculturais nos quais os sujeitos estão inseridos, a partir
de uma abordagem denominada etnopsiquiatria.
Segundo o autor do livro, esta corrente não se opõe à tradicional abordagem medicamentosa, mas a complementa.
A
etnopsiquiatria (também chamada de psiquiatria social) fundamenta-se no
reconhecimento das diferenças entre indivíduos, ao considerar tanto a
dimensão psíquica quanto a cultural – nesse último caso, especialmente
de aspectos relacionados às relações sociais, de identidade e de
situações vividas ao longo da vida.
“Por
exemplo, um paciente esquizofrênico do interior do Ceará não adoece do
mesmo modo que um esquizofrênico em Tóquio, no Japão, embora a doença
tenha um conteúdo genético. Enquanto o segundo pode falar que está sendo
perseguido por monstros de jogos eletrônicos, o primeiro pode relatar
demônios ou entidades da cultura popular”, explica Mourão “Outra
diferença: já tratei padres e freiras com depressão. Eles choram,
lamentam, mas nunca falam em suicídio, por conta dos preceitos do
catolicismo”, frisa o médico.
Mourão
conheceu a etnopsiquiatria na Europa, onde estudou e trabalhou após
formar-se em medicina. A primeira experiência foi no Hospital de Saint
Luc, da Universidade Católica de Louvain, Bélgica, onde conheceu
alternativas de tratamento que substituíam as práticas de uma
psiquiatria então fundamentalmente asilar. No lugar de confinamento e
eletrochoques, Mourão conheceu uma unidade de psiquiatria integrada a um
hospital universitário, além de uma equipe integrada com aquelas de
outras especialidades.
Paralelamente,
conheceu o trabalho de George Devereux, que ministrava seminários de
etnopsiquiatria em Paris. Anteriormente, já havia tido contado com os
livros do professor François Laplantine, outro nome relevante na área.
Casos
A
fim de tornar o conteúdo mais claro e acessível, Mourão tomou o cuidado
de permear o livro com relatos de pacientes atendidos (com os nomes
modificados ou suprimidos). Como, por exemplo, o de um jovem da Paraíba,
que, aprovado em concurso público, mudou-se para a cidade cearense de
Paracuru. “Lá, ele começou a adoecer, não dormia direito, tinha
pesadelos e taquicardia. Tudo isso gerou ainda um desgaste na relação
com a esposa”, lembra Mourão.
“Ele
já tinha procurado um cardiologista e outros especialistas, quando
chegou até mim. Em conversa, contou-me que sua família na Paraíba era
umbandista, e que, antes de se mudar, ele estava se preparando para ser
pai-de-santo. Em Paracuru, ao contrário, era um total desconhecido.
Sugeri, então, que ele abrisse seu terreiro na cidade. Os olhos do jovem
chega brilharam. Eventualmente, quando montou o espaço, os sintomas
desapareceram”, conta o médico.
Segundo
Mourão, o relato demonstra a relevância peculiar da religião na vida do
povo brasileiro. “A cultura tem ferramentas que, se corretamente
utilizadas, ajudam a pessoa a ficar integrada e de bem com ela mesma e
com os outros. A religião é uma delas”, comenta o médico.
Em
outra passagem, na introdução do livro, o psiquiatra recorda a ocasião
em que questionou a ausência de leitos com rede para pacientes
nordestinos, no lugar da tradicional cama hospitalar. “No Nordeste,
dorme-se muito de rede, ao ponto de alguns pacientes internados ficarem
com medo de cair da cama e isso interferir na qualidade do sono. Tanto
que vi inúmeras vezes médicos incluirem no prontuário remédios para eles
dormirem”, conta. “É um detalhe que revela como a cultura tem a ver com
a dimensão emocional”, complementa.
Compilação
Outro
capítulo importante do livro trata da terapia familiar sistêmica,
segundo a qual é indispensável observar o todo e não as partes do
sistema familiar, e com a qual Mourão teve contato aprofundado também na
Bélgica. Lá fez parte da primeira turma da terapeuta de família Mony
Elkaim.
Por
fim, no terceiro capítulo, Mourão aborda alguns temas atuais no campo
da psiquiatria, como a perda e o luto, a erotização precoce de crianças e
as drogas. Boa parte dos textos do livro é oriunda de artigos
publicados ao longo dos anos de carreira do autor na revista eletrônica
Psychiatry On Line Brasil. “Mas muitas pessoas me pediam cópias
impressas, então resolvi juntar tudo em um livro, acompanhado de uma
introdução, onde resumo meu itinerário profissional”, detalha.
De
fato, é na introdução onde melhor resume a essência da obra. “Uma parte
de mim não acredita em pai-de-santo, em umbanda, em rezadeira, isso
enquanto sou psiquiatra. Pois é uma ciência que tem suas referências.
Mas, como sou brasileiro, nordestino, do Ceará, não posso desconhecer
essa realidade. Eu tenho que saber que caminho com essas duas
identidades. Uma não precisa destruir a outra”, expressa no texto.
Segundo
ele, o livro destina-se a tanto aos profissionais quanto às pessoas que
gostam do assunto, no sentido de “vislumbrar outros olhares, em vez de
ficar preso unicamente à questão medicamentosa, à psicofarmacologia”,
complementa na entrevista.
Eu atuo como um Consultor Sistêmico e as Linhas de Ação em que nosso Programa atua são uma forma de fortalecer o Sistema Único de Saúde Brasileiro, fornecer apoio institucional e motivar a busca por melhorias técnicas e sociais, nos lugares que nossas idéias alcançarem. Quaisquer que sejam seus dons e talentos, vcs podem juntar-se a nós, como força humana e receber nossos conteúdos. Zap (073) 99931-0980 Seu parceiro, Diego R. Leal.
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- XI. Programa Virtual de Apoio à Gestão em Saúde
- XII. Programa de Promoção de Educação Alimentar, Higiene do Sono e Sexualidade
- XIII: Programa Virtual de Apoio e Defesa da Integralidade, Universalidade e Equidade
- XIV: Programa de Arquivologia e Marketing Digital de experiências exitosas
- XV. Programa de Promoção de Motivação, Inspiração e Espiritualidade
- XVI: Programa de Incentivo Virtual à Registros Ancestrais e Pesquisas de História da Família
- Programa de Apoio Virtual 'Varrendo a terra como um dilúvio'
- Programa de apoio aos Grupos de Autossuficiência e Economia Solidária
Relato de Experiência Fiocruz/ BIREME/OPAS/OMS
Relato de Experiência Fiocruz/ BIREME/OPAS/OMS
Em álbum interativo com slides e áudios online:
https://www.familysearch.org/photos/gallery/album/1049792?playSlideshow
Em texto resumido:
https://www.familysearch.org/photos/artifacts/155345899?cid=mem_copy
História da Escola de Abordagem Terapêutica Intercultural Brasileira Sistêmica de Pics:
https://www.familysearch.org/photos/artifacts/155437740?cid=mem_copy
Relato de Experiência "APS Forte"
*Relatório Sistêmico do Laboratório de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Lab-Pics) em 2022*
Encaminhado para o prêmio "APS Forte"
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Expandir ações da Escola Sistêmica Híbrida de Santa Cruz Cabrália para ofertar cursos, vivências e capacitações de desenvolvimento pessoal e harmonização com a filosofia sistêmica.
Objetivo Específico
1 Oferecer inicialmente oito módulos opcionais, com certificação aos participantes, de auto-cuidado, formação de reiki, toque sistêmico, comunicação sistêmica, prática corporal sistêmica, meditação sistêmica, cuidado sistêmico e prática circular sistêmica.
2 Oferecer suporte online através de rodas virtuais nas redes sociais, ligados ao Programa Voluntário de Apoio e Promoção de Saúde Integral.
3 Registrar atividades em conformidade com o laboratório sistêmico ligado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia.
4 Realizar atividades intersetoriais de correlação entre as secretarias de saúde, educação, desenvolvimento social, turismo, cultura, meio ambiente e qualquer outra do interesse da gestão.
5 Realizar vivências terapêuticas com profissionais da prefeitura, cuidadores, trabalhadores das empresas cadastradas na escola sistêmica.
MÉTODOS
A divulgação e ofertas dos cursos oferecidos foram realizadas na plataforma do Programa de Apoio e Promoção de Saúde Integral, onde também ficaram arquivadas algumas das postagens e documentários produzidos, através de arquivologia digital em nuvem gratuita.
As aulas sistêmicas foram executadas via sala no aplicativo gratuito google meet, após divulgar o link nos grupos virtuais institucionais específicos, onde foram reunidos os contatos matriculados nos cursos, nos aplicativos telegram e whats app.
O controle do desempenho dos discentes foi feito via planilhas digitais do google, sempre monitoradas pela gestão e por cartões de aprazamento, registrados à mão pelos discentes e rubricados pelo docente após o cumprimento das tarefas.
As apresentações, seminários, conferências, oficinas e demais eventos online da rede foram divulgados e realizados através da mesma plataforma e rede virtual.
Foi realizado acolhimento e cadastro online através de bancos de dados gratuitos do google, seguido de apoio e acompanhamento através das dinâmicas e anúncios de eventos das rodas virtuais.
Foi construída planilha do google com informações sobre o público alvo coletadas por esforços voluntários.
Foram promovidas reuniões regulares online ou presenciais com as secretarias envolvidas, de acordo com as possibilidades da gestão.
As vivências foram realizadas sob a supervisão do Serviço Social e Enfermagem do NASF/Npics de Santa Cruz Cabrália, tanto no seu respectivo Espaço físico dentro da Clínica Municipal de Reabilitação e Fisioterapia, quanto virtuais e nos Espaços cadastrados no Programa de Saúde Integral, como o Espaço Korihé, Instituto Terra Máter, Espaço Flor de Lótus, Vila Criativa e Base de Canoagem Havaiana da CPP Extreme.
Nas redes sociais como whatsapp e Google meet, foram utilizadas a condução de oficinas de auto massagem, meditação reikiana e sistêmica, a abordagem integrativa indígena Korihé, assim como a Terapia Comunitária Integrativa e a Constelação Familiar Sistêmica.
As abordagens em Grupo utilizaram os espaços virtuais do whatsapp, facebook, youtube e instagram do Programa Voluntário de Promoção de Saúde Integral, que já atua em parceria online com a Prefeitura de S. C. Cabrália há vários anos. Por conta das demandas dos atendimentos na pandemia, iniciei a realizar abordagens através de listas de transmissão com contatos de moradores cadastrados em Cabrália, divididos entre os temas solicitados, ainda em construção coletiva (Pics em geral, emagrecimento, realização profissional, dor crônica, relacionamentos saudáveis, resiliência, controle da raiva e agressividade, angústia espiritual).
Com relação aos atendimentos presenciais, onde foram pactuados e desenvolvidos Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), com a equipe do Nasf e foram acolhidos alguns casos, com sessões terapêuticas sistêmicas.
Relatando um pouco mais a respeito dos métodos adaptativos que utilizamos, buscamos priorizar o uso das redes sociais e outros recursos à distância, que conseguissem abranger os princípios da atenção psicossocial. Os técnicos da estratégia de saúde da família e o atendimento online dos psicólogos conseguiram rastrear e captar muitos dos casos que não conseguiram desenvolver a autonomia da cura com medidas caseiras para a resiliência emocional. Alguns precisaram arriscar-se à atendimentos presenciais na Sala do Nasf, na Clínica de fisioterapia, que foram desenvolvidos uma ou mais vezes por semana, quando solicitado pelo Serviço social, em casos prioritários, ou nas Unidades de Saúde da Rede e nestas circunstâncias, em casos classificados como necessários para desenvolvimento de Projeto Terapêutico Singular, foram introduzidas Pics em associação à abordagem psicológica, como exemplo a Auriculoterapia da Medicina Tradicional Chinesa, Shiatsu, Constelação Familiar Sistêmica e Imposição de Mãos/Reiki presencial ou à distância.
Foram atendidos presencialmente alguns casos encaminhados, acompanhados pelos Psicólogos, Patrícia e Anderson, com sessões terapêuticas. Foram encaminhados alguns casos também pelos médicos e odontólogos, para avaliações sobre sessões de reiki ou constelação sistêmica. Foram atendidos presencialmente alguns casos, que não aderiam ao atendimento com a psicologia. Foram atendidos casos do Programa "Cuidando do Cuidador", onde não foram abertos prontuários, pois os servidores envolvidos desejavam que não houvessem registros.
As sessões terapêuticas sistêmicas presenciais foram executadas para um grupo de pessoas, que nos forneceram o cartão SUS, e receberam acompanhamento diário ou semanal através de rodas sistêmicas no Whats App, tanto do voluntariado do Projeto Social parceiro, quanto grupos criados pela equipe do Nasf, com o propósito de educação popular, incluindo as Pics.
De forma sistêmica, foi expressa profunda gratidão, tanto aos gestores, quanto à todas nossas equipes da rede APS e especialmente pela entrega dos que receberam nossos cuidados, científicos, holísticos e tecnológicos.
RESULTADOS
Do ponto de vista técnico-científico, o ano foi especialmente importante, pois conseguimos expandir ações da monitoria do Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia para a Atenção Básica, adaptando o uso conjunto destas técnicas à novas associações com a abordagem da Psicologia da ACP e da TCC (No Caps, já havíamos integrado as Pics à psicologia transpessoal, à Fisioterapia e ao Serviço Social), assim como à Educação Física. Continuar otimizando a associação das 29 pics cadastradas pelo Ministério com outras abordagens e as intervenções da equipe interdisciplinar, também é uma das metas do Lab-Pics para 2022.
A partir do momento em que foi inaugurada a Clínica de Reabilitação e Fisioterapia, com uma sala para o Nasf, as forças, atenção e energias tanto da Enfermagem e Serviço Social do Nasf/Npics como de alguns voluntários e estudantes da Escola Energético- Sistêmica que foi organizada pela Atenção Básica, estiveram voltadas ao desenvolvimento das atividades do Laboratório Sistêmico de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Lab-Pics). Foram ministradas aulas teóricas online e práticas vivenciais de um curso de reiki, toque terapêutico Sistêmico e integrativo, para profissionais, voluntários e usuários do SUS. Foram formadas classes para estudar e praticar aspectos da abordagem sistêmica, como a comunicação, meditação, práticas corporais e cuidado sistêmico.
Foram alcançados excelentes resultados, como mérito de um belo esforço coletivo e não egóico. Em meio à uma verdadeira "batalha invisível", a um "combate emocional", vivenciado por nossos pacientes, ainda em período pandêmico, conseguimos coletar explêndidos relatos e evoluções bem sucedidas em casos que foram atendidos utilizando Pics através da internet e especialmente em alguns casos, atuando ao lado da Assistente Social e a Psicóloga do NASF e os demais psicólogos, da Policlínica e Caps.
Nossa profunda gratidão,
Diego da Rosa Leal
Enfermeiro e Professor Sistêmico
Laboratório Vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia (Npics/Geppics/UFSB)
Prefeitura de Santa Cruz Cabrália
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