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POR FAVOR, colegas que não trabalham na saúde ou na assistência social, que não são da área, que não conhecem ou não tem domínio sobre o tema da SAÚDE MENTAL, REFORMA PSIQUIÁTRICA, ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, POR FAVOR, LEIAM ISSO AQUI.
Nós, trabalhadores da saúde mental, tomamos um soco na boca do estômago neste último dia 10/12/15. Mas peraí que já vou explicar o que é saúde mental. É rapidão! Óh:
No dia 10/12/15, o Marcelo Castro, atual Ministro da Saúde, nomeou pra Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras drogas do Ministério um cara que ninguém queria na coordenação, pelo seu terrível currículo na história da reforma psiquiátrica brasileira, senhor Valencius Wurch Duarte Filho. No cargo de coordenador, sempre tivemos o querido Roberto Tykanori Kinoshita, figura presente, próxima, atuante e competente, que cumpriu seu papel brilhantemente na coordenação, por tantos anos, na luta pelo fim das práticas manicomiais no Brasil.
Já o Valencius Wurch carrega na bagagem a temerosa marca de ser, simplesmente, o ex diretor do maior hospício da América latina - a Casa de Saúde Dr. Eiras, que foi fechado em 2012, em Paracambi, na Baixada Fluminense. Valencius, na década de 1990 e início de 2000, foi uma das figuras que mais lutou contra a reforma psiquiátrica no Brasil e queria manter os manicômios funcionando e todas as práticas violentas que aconteciam dentro deles.
POR QUE ESTAMOS TENTANDO CHAMAR ATENÇÃO E NOS UNIR ÀS PESSOAS QUE NÃO SÃO DA ÁREA?
Queridxs, isso ainda não foi, nem vai ser noticiado nos veículos de comunicação de grande massa, porque não interessa a ninguém, a não ser às famílias e à população atendida. VOCÊS SABEM POR QUE DEFENDEMOS OS FINS DOS MANICÔMIOS E QUE AS PESSOAS QUE PASSAM PELA EXPERIÊNCIA DA LOUCURA, DO SOFRIMENTO MENTAL E EMOCIONAL, DO USO PROBLEMÁTICO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS DEVEM SER CUIDADAS NOS CAPS, NOS "POSTINHOS" DE SAÚDE E NOS HOSPITAIS GERAIS IGUAL TODO MUNDO? Porque temos um histórico mundial e nacional de VIOLÊNCIA dentro desses espaços (manicômios, hospitais psiquiátricos, hospícios, clínicas) - violência física, que levou às milhares e milhões de mortes pelo mundo, e violência simbólica (ou não tão simbólica), de privação de direitos, como o direito à liberdade (Por que manter preso quem está doente? Que tipo de crime é esse? Nenhum).
NÓS TEMOS COMO DAR CONTA DE ATENDER ESSES CASOS NOS SERVIÇOS ABERTOS DE SAÚDE E DE ASSISTÊNCIA. Apesar das tão sabidas faltas, o sistema público PRECISA e está organizado para dar conta de atender esses casos de maneira mais humanizada e não violenta, não prendendo ninguém. O SUS É UMA CONQUISTA POPULAR E, VOCÊS NEM SABEM, MAS FOI CONQUISTADO POR MOVIMENTOS POPULARES QUE FORAM PRA RUA NA DÉCADA DE 1970 E 1980. SIM, FORAM PRA RUA E TEMOS ISSO GRAVADO. Por isso, é no sistema público (e não privado) que devemos cuidar desses casos.
O QUE PRECISAMOS ENTÃO É: MUDAR A CULTURA MANICOMIAL QUE EXISTE DENTRO DE NÓS E APOIAR OS SERVIÇOS ABERTOS DE CUIDADO, SERVIÇOS COMUNITÁRIOS. Às vezes, por não sermos da área e nunca termos conversado com um louco, com um usuário grave de álcool e outras drogas, pensamos: "pô, esse cara devia tá numa clínica". Queridxs, NÃO. Esses casos deviam estar ONDE ELES QUISEREM (no posto de saúde, no campinho de futebol, trabalhando, no restaurante, no cinema, no caps, no cras, em casa, na balada, na casa da namorada, na rua contra o impeachment, no teatro, na escola, em qualquer hospital geral, na academia, na rua soltando pipa, em casa com a família, na igreja, comendo a comida boa da vó, etc etc etc).
POR FAVOR, percam um tempo conhecendo e apoiando os serviços da rede de atenção psicossocial do município de vocês (rede de saúde mental). A gente tá na rua há muito tempo, mas não é todo mundo que vê, porque, na real, quem vai pra rua nessa luta, são os trabalhadores da área e a população atendida. E isso precisa ser uma luta de todxs, porque, especialmente, tem ligação direta com nosso direito à saúde e nossos direitos previstos na constituição, de uma forma geral.
E, depois do dia 10/12/15, estamos dormindo mal; ter na coordenação geral da saúde mental um cara que foi (e é, né?) um defensor dos manicômios e contra a reforma psiquiátrica, nos dá um frio na barriga tremendo, porque não sabemos que tipo de apoio vamos receber na ponta dos serviços que estamos. Precisamos que todo o território nacional tenha noção da gravidade disso, porque precisamos de vocês. Não conseguimos lutar sozinhos. Se é pra entrar na moda, SR. VALENCIUS WURCH DUARTE FILHO NÃO NOS REPRESENTA; NÃO REPRESENTA A SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA; NÃO REPRESENTA A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA. Onde, oooooooonde nosso Ministro da Saúde tá com a cabeça, gente? VI-A-JOU!
Abração,
Ana Toniolo.
OBS: E eu não quero comprar briga nenhuma, mas quando eu disse que a galera foi pra rua em 1970 e 1980 e conquistaram o SUS, não fizeram isso só por facebook, não só foram pra rua de cara pintada como, especialmente, souberam com quem sentar e de quem cobrar o que o povo queria. Assim, nasceram as Conferências Nacionais de Saúde, por exemplo, e os conselhos municipais. Esse povo deu a dica que apenas pintar a cara e ir pra rua não funciona; temos que ter propostas em mãos e entregar na mão da pessoa certa a ser cobrada. Mas isso é papo pra outra hora...
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