Espiritualidade e saúde mental: aspectos que influenciam no cuidado
posted Oct 19, 2016, 11:06 PM by Diego Leal
Espiritualidade e saúde mental: aspectos que influenciam no cuidado
Emilly Cristina Oliveira Mota, Iolanda Santos Nogueira
Disponível em: https://sites.google.com/site/enfermagembrasilsae/classroom-news/espiritualidadeesaudementalaspectosqueinfluenciamnocuidado
Resumo
A
espiritualidade é caracterizada como uma parte do ser humano que remete
aos questionamentos, emoções e convicções acerca do sentido da vida. A
saúde mental se relaciona com ela através de estratégias que visam uma
melhora no cuidar da saúde, pois desenvolvendo a espiritualidade do
paciente, consequentemente ampliasse sua resiliência, fundamental para
promover o equilíbrio mental e promover a saúde integral. Portanto, esse
artigo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica analítica
sobre a espiritualidade e saúde mental acerca dos aspectos relacionados à
atenção de saúde.
Palavras-chave: Espiritualidade, religiosidade, saúde mental, cuidado integral, assistência de enfermagem.
Introdução
Após
a reforma psiquiátrica, na década de 70, o modelo de assistência em
saúde mental tem passado por várias transformações no cuidado ao
paciente com transtorno mental, mudando o foco desse cuidado de
internações hospitalares e manicomiais para o atendimento integral
através dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPs), que tem o suporte
de sua assistência na Rede Atenção Psicossocial (RAPS) (LEITE;
SEMINOTTI, 2013).
Essa
mudança proporcionou um atendimento integral, individual e que
possibilita o fortalecimento da autonomia do individuo, além da
valorização de sua subjetividade como algo intrínseco do paciente e que
faz parte do cuidado. Esse novo paradigma de cuidado é importante, no
contexto da sociedade pós-moderna, com o surgimento da tendência de
questionamento existencial que afeta o bem estar e qualidade de vida
(OLIVEIRA; JUNGES, 2012).
Dessa
forma, levando em consideração o conceito de saúde como um bem estar
físico, mental e social, uma mente saudável seria um bem estar que
supera as adversidades do cotidiano e mantém sua subjetividade,
abrangendo a espiritualidade. Sendo que a espiritualidade é
caracterizada como uma parte do ser humano que remete aos
questionamentos, emoções e convicções acerca do sentido da vida, de que
há mais no viver, e das coisas que não são plenamente compreendidas. Não
se limitando assim, a uma crença ou prática religiosa (OLIVEIRA;
JUNGES, 2012).
Portanto,
é importante distinguir a espiritualidade da religiosidade, além de
que, só depois da metade do século XX que a questão espiritual passou a
ser estudada e aceita como parte importante na saúde, ao invés de
influência negativa sobre ela, em especial a saúde mental. Percebe-se
assim que a solução de problemas e questionamentos interiores,
proporcionado pela espiritualidade contribui para o bem estar mental e
físico, sendo uma forma de promoção de saúde (LEITE; SEMINOTTI, 2013).
Entretanto,
a forma como o individuo desenvolve sua espiritualidade pode tanto
levar a comportamentos positivos quanto desordenados, o que na
assistência clínica deve ser um fator a ser abordado, observando a
importância que o paciente dá ao aspecto religioso, que pode se
manifestar como espiritual, como propriamente dito, as questões
existenciais que podem causar sofrimento exacerbado (OLIVEIRA; JUNGES,
2012).
Além
de que, certos pensamentos religiosos dificultam o tratamento, pois
exclui o tratamento medicamentoso, piorando o quadro clínico, essas
atitudes estão mais relacionadas ao fanatismo religioso. Por isso é
importante à orientação sobre a espiritualidade, pois quando o paciente
entende que está esta ligada a uma energia positiva, o individuo se
sente mais forte e mais disposto para enfrentar os obstáculos da vida,
principalmente quando se trata de adoecimento mental (MURAKAMIL; CAMPOS,
2012).
Metodologia
Trata-se
de uma pesquisa de revisão bibliográfica analítica sobre a
espiritualidade e saúde mental acerca dos aspectos relacionados à
atenção de saúde. Uma pesquisa bibliográfica é descrita por Andrade,
2004 apud Assis
2009, mais como a forma como se obtém os dados necessários para uma
pesquisa, do que sobre suas características, sendo o meio pelo qual se
recolheu informações para desenvolvimento deste artigo, em livros e
documentos bibliográficos publicados referentes à espiritualidade e
saúde mental.
A
pesquisa analítica é o estudo e analise das informações disponíveis
sobre espiritualidade e saúde mental, sendo que o material para
desenvolvimento desse trabalho foi encontrado na plataforma da
Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde (BVMS) e Scielo, com as
palavras chaves espiritualidade, religiosidade, saúde mental, cuidado
integral e assistência de enfermagem.
Espiritualidade como experiência e sua relação com saúde mental
De
acordo Carone & Barone (2001) a crença religiosa estabelece uma
parte importante da cultura, dos princípios e dos valores utilizados
pelos pacientes para dar forma a julgamentos e ao processamento de
informações. Desse modo, a confirmação de suas crenças e inclinações
perceptivas podem fornecer ordem e compreensão de eventos dolorosos,
caóticos e imprevisíveis.
A
espiritualidade e religiosidade são entendidas de forma importante no
aspecto da nossa força superior, onde sabemos que é um sentido de vida e
que nos direciona à nossa integralidade, dessa forma nos ajudando com
nossos sentidos embaralhados, no auxilio com a ansiedade, medos,
angustias, desânimos, raiva e principalmente com a prevenção de doenças
mentais (MOREIRA et al., 2006; VOLCAN et al., 2003).
Em
relação à espiritualidade/ religiosidade a forma em que o individuo, de
acordo a saúde mental, interpreta e sente é de grande importância para
manter os comportamentos ou desenvolver certas ações saudáveis ou
desordenadas, assim como também em qualquer outro aspecto da vida
(OLIVEIRA; JUNGES, 2012).
Dessa
forma a saúde mental está relacionada com a espiritualidade de forma
que a promoção da saúde mental possa surgir através de estratégias que
visam uma melhora no cuidar da saúde, relacionada com a criação de novas
estratégias que irão se fortalecer no processo do bem estar do
paciente, assim como promover um equilíbrio mental e prevenir
transtornos psíquicos (LEITE; SEMINOTTI, 2013).
Abordagem da espiritualidade na atenção em saúde mental
Em
decorrência da interpretação errônea sobre o que caracteriza a
espiritualidade, os profissionais podem ter dificuldade em introduzir
esse aspecto no plano de cuidado do paciente, sendo importante que esses
ampliem o seu conhecimento acerca do assunto, tendo em vista que saúde
mental não é uma parte separada apenas para os transtornos mentais, mas
está relacionada ao conceito de saúde, do equilíbrio entre o bem-estar
físico, mental e social (LEITE; SEMINOTTI, 2013).
Esse
equilíbrio pode estar alterado não apenas nos transtornos, mas em
sofrimentos decorrentes de qualquer patologia, como também de algum
sofrimento subjacente, por isso dentro da assistência é preciso
identificar a fragilidade que o paciente apresenta por esse sofrimento
espiritual. Essa abordagem é realizada desde a acolhida na unidade de
saúde, da escuta humanizada ao respeito acerca das dúvidas e
questionamentos existenciais (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).
Esses
pontos devem ser seguidos de forma a estabelecer uma relação
terapêutica com empatia, de forma a proporcionar um ambiente seguro para
que o paciente repense sua vida, suas práticas e como esse cotidiano
chega a afetá-lo. Se esse espaço de reflexão for realizado em forma de
grupo, apresenta uma possibilidade de que coletivamente os participantes
aprendam as respeitar as diferenças em grupo e a encontrar respostar
aos seus questionamentos de forma segura e terapêutica (OLIVEIRA;
JUNGES, 2012).
Isso
porque ao se ter uma forma de se autoconhecer, o individuo está
desenvolvendo sua espiritualidade e consequentemente ampliando sua
resiliência, fundamental para promover o equilíbrio mental e promover a
saúde integral dele, não focando apenas nos sintomas apresentados, mas
em um contexto ampliado (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).
Conclusões
A
partir do estudo de espiritualidade em saúde mental, é perceptível que
uma das grandes dificuldades que os profissionais de saúde, em
especifico os enfermeiros, tem de desenvolver o aspecto espiritual
dentro da sistematização da assistência de enfermagem do cuidado
integral, com equidade e universalidade, sendo necessário a
diferenciação do conceito de religiosidade e espiritualidade. Para
tanto, é necessário se desprender de crenças pessoais, ligadas a
religiosidade, para então compreender que a espiritualidade está
relacionada ao sentindo individual do significado da vida, fundamental
para o equilíbrio mental.
Por
conta disso, é importante que os espaços de produção de conhecimento
ampliem seus horizontes de forma a não apenas melhorar o conhecimento
quantitativo, como também qualitativo, de forma a quebrar tabus acerca
dos diversos aspectos envolvidos na atenção de saúde. Isso proporcionará
que o conceito do que é saúde, seja de fato absorvido e transmitido de
forma eficaz, uma vez que o organismo é codependente de suas áreas
(física, mental e social), a partir do ponto de vista do paciente.
Quando
se fala no ponto de vista do paciente, refere-se ao significado que
este tem acerca de suas vivências, por isso o cuidado não pode ser
fragmentado, assim como também as experiências proporcionadas aos
pacientes. Deve-se então propor atuações tanto individuais quanto
coletivas, como citadas anteriormente, uma vez que o meio coletivo,
quando encaminhado corretamente, se torna uma forma de identificação e
reflexão de dúvidas interiores que levam a um bem-espiritual, que
proporciona um passo ao equilíbrio mental e consequente melhora da
qualidade de vida.
Referências Bibliográficas
ASSIS, Maria Cristina de. Metodologia do trabalho científico. Ed. 3ª. Editora Universitária UFPB: João Pessoa, 2009.
CARONE,
D.A.J.; BARONE, D.F. A social cognitive perspective on religious
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LEITE,
Imelidiane Silva; SEMINOTTI, Elisa Pinto. A influência da
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sistemática. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. V. 17, n. 2, p. 189-196, 2013.
MOREIRA, A.A.; NETO, F.L.; KOENIG, H.G. Religiousness and mental health: a review. Rev Bras Psiquiatr, 28 (3):242-50, 2006.
MURAKAMI,
Rose; CAMPOS, Claudinei José Gomes. Religião e saúde mental: desafio de
integrar a religiosidade ao cuidado com o paciente. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 65, n. 2, p. 361-367, Apr. 2012.
OLIVEIRA, Márcia Regina de; JUNGES, José Roque. Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. Estud. psicol. (Natal), Natal , v. 17, n. 3, p. 469-476, Dec. 2012.
VOLCAN, S.M.A. et al. Relação entre bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores: estudo transversal. Rev Saúde Pública, 37(4):440-5, 2003.
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