Relato de Experiência Fiocruz/ BIREME/OPAS/OMS

Relato de Experiência Fiocruz/ BIREME/OPAS/OMS Em álbum interativo com slides e áudios online: https://www.familysearch.org/photos/gallery/album/1049792?playSlideshow Em texto resumido: https://www.familysearch.org/photos/artifacts/155345899?cid=mem_copy História da Escola de Abordagem Terapêutica Intercultural Brasileira Sistêmica de Pics: https://www.familysearch.org/photos/artifacts/155437740?cid=mem_copy

Relato de Experiência "APS Forte"

*Relatório Sistêmico do Laboratório de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Lab-Pics) em 2022* Encaminhado para o prêmio "APS Forte" OBJETIVOS Objetivo Geral Expandir ações da Escola Sistêmica Híbrida de Santa Cruz Cabrália para ofertar cursos, vivências e capacitações de desenvolvimento pessoal e harmonização com a filosofia sistêmica. Objetivo Específico 1 Oferecer inicialmente oito módulos opcionais, com certificação aos participantes, de auto-cuidado, formação de reiki, toque sistêmico, comunicação sistêmica, prática corporal sistêmica, meditação sistêmica, cuidado sistêmico e prática circular sistêmica. 2 Oferecer suporte online através de rodas virtuais nas redes sociais, ligados ao Programa Voluntário de Apoio e Promoção de Saúde Integral. 3 Registrar atividades em conformidade com o laboratório sistêmico ligado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia. 4 Realizar atividades intersetoriais de correlação entre as secretarias de saúde, educação, desenvolvimento social, turismo, cultura, meio ambiente e qualquer outra do interesse da gestão. 5 Realizar vivências terapêuticas com profissionais da prefeitura, cuidadores, trabalhadores das empresas cadastradas na escola sistêmica. MÉTODOS A divulgação e ofertas dos cursos oferecidos foram realizadas na plataforma do Programa de Apoio e Promoção de Saúde Integral, onde também ficaram arquivadas algumas das postagens e documentários produzidos, através de arquivologia digital em nuvem gratuita. As aulas sistêmicas foram executadas via sala no aplicativo gratuito google meet, após divulgar o link nos grupos virtuais institucionais específicos, onde foram reunidos os contatos matriculados nos cursos, nos aplicativos telegram e whats app. O controle do desempenho dos discentes foi feito via planilhas digitais do google, sempre monitoradas pela gestão e por cartões de aprazamento, registrados à mão pelos discentes e rubricados pelo docente após o cumprimento das tarefas. As apresentações, seminários, conferências, oficinas e demais eventos online da rede foram divulgados e realizados através da mesma plataforma e rede virtual. Foi realizado acolhimento e cadastro online através de bancos de dados gratuitos do google, seguido de apoio e acompanhamento através das dinâmicas e anúncios de eventos das rodas virtuais. Foi construída planilha do google com informações sobre o público alvo coletadas por esforços voluntários. Foram promovidas reuniões regulares online ou presenciais com as secretarias envolvidas, de acordo com as possibilidades da gestão. As vivências foram realizadas sob a supervisão do Serviço Social e Enfermagem do NASF/Npics de Santa Cruz Cabrália, tanto no seu respectivo Espaço físico dentro da Clínica Municipal de Reabilitação e Fisioterapia, quanto virtuais e nos Espaços cadastrados no Programa de Saúde Integral, como o Espaço Korihé, Instituto Terra Máter, Espaço Flor de Lótus, Vila Criativa e Base de Canoagem Havaiana da CPP Extreme. Nas redes sociais como whatsapp e Google meet, foram utilizadas a condução de oficinas de auto massagem, meditação reikiana e sistêmica, a abordagem integrativa indígena Korihé, assim como a Terapia Comunitária Integrativa e a Constelação Familiar Sistêmica. As abordagens em Grupo utilizaram os espaços virtuais do whatsapp, facebook, youtube e instagram do Programa Voluntário de Promoção de Saúde Integral, que já atua em parceria online com a Prefeitura de S. C. Cabrália há vários anos. Por conta das demandas dos atendimentos na pandemia, iniciei a realizar abordagens através de listas de transmissão com contatos de moradores cadastrados em Cabrália, divididos entre os temas solicitados, ainda em construção coletiva (Pics em geral, emagrecimento, realização profissional, dor crônica, relacionamentos saudáveis, resiliência, controle da raiva e agressividade, angústia espiritual). Com relação aos atendimentos presenciais, onde foram pactuados e desenvolvidos Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), com a equipe do Nasf e foram acolhidos alguns casos, com sessões terapêuticas sistêmicas. Relatando um pouco mais a respeito dos métodos adaptativos que utilizamos, buscamos priorizar o uso das redes sociais e outros recursos à distância, que conseguissem abranger os princípios da atenção psicossocial. Os técnicos da estratégia de saúde da família e o atendimento online dos psicólogos conseguiram rastrear e captar muitos dos casos que não conseguiram desenvolver a autonomia da cura com medidas caseiras para a resiliência emocional. Alguns precisaram arriscar-se à atendimentos presenciais na Sala do Nasf, na Clínica de fisioterapia, que foram desenvolvidos uma ou mais vezes por semana, quando solicitado pelo Serviço social, em casos prioritários, ou nas Unidades de Saúde da Rede e nestas circunstâncias, em casos classificados como necessários para desenvolvimento de Projeto Terapêutico Singular, foram introduzidas Pics em associação à abordagem psicológica, como exemplo a Auriculoterapia da Medicina Tradicional Chinesa, Shiatsu, Constelação Familiar Sistêmica e Imposição de Mãos/Reiki presencial ou à distância. Foram atendidos presencialmente alguns casos encaminhados, acompanhados pelos Psicólogos, Patrícia e Anderson, com sessões terapêuticas. Foram encaminhados alguns casos também pelos médicos e odontólogos, para avaliações sobre sessões de reiki ou constelação sistêmica. Foram atendidos presencialmente alguns casos, que não aderiam ao atendimento com a psicologia. Foram atendidos casos do Programa "Cuidando do Cuidador", onde não foram abertos prontuários, pois os servidores envolvidos desejavam que não houvessem registros. As sessões terapêuticas sistêmicas presenciais foram executadas para um grupo de pessoas, que nos forneceram o cartão SUS, e receberam acompanhamento diário ou semanal através de rodas sistêmicas no Whats App, tanto do voluntariado do Projeto Social parceiro, quanto grupos criados pela equipe do Nasf, com o propósito de educação popular, incluindo as Pics. De forma sistêmica, foi expressa profunda gratidão, tanto aos gestores, quanto à todas nossas equipes da rede APS e especialmente pela entrega dos que receberam nossos cuidados, científicos, holísticos e tecnológicos. RESULTADOS Do ponto de vista técnico-científico, o ano foi especialmente importante, pois conseguimos expandir ações da monitoria do Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia para a Atenção Básica, adaptando o uso conjunto destas técnicas à novas associações com a abordagem da Psicologia da ACP e da TCC (No Caps, já havíamos integrado as Pics à psicologia transpessoal, à Fisioterapia e ao Serviço Social), assim como à Educação Física. Continuar otimizando a associação das 29 pics cadastradas pelo Ministério com outras abordagens e as intervenções da equipe interdisciplinar, também é uma das metas do Lab-Pics para 2022. A partir do momento em que foi inaugurada a Clínica de Reabilitação e Fisioterapia, com uma sala para o Nasf, as forças, atenção e energias tanto da Enfermagem e Serviço Social do Nasf/Npics como de alguns voluntários e estudantes da Escola Energético- Sistêmica que foi organizada pela Atenção Básica, estiveram voltadas ao desenvolvimento das atividades do Laboratório Sistêmico de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Lab-Pics). Foram ministradas aulas teóricas online e práticas vivenciais de um curso de reiki, toque terapêutico Sistêmico e integrativo, para profissionais, voluntários e usuários do SUS. Foram formadas classes para estudar e praticar aspectos da abordagem sistêmica, como a comunicação, meditação, práticas corporais e cuidado sistêmico. Foram alcançados excelentes resultados, como mérito de um belo esforço coletivo e não egóico. Em meio à uma verdadeira "batalha invisível", a um "combate emocional", vivenciado por nossos pacientes, ainda em período pandêmico, conseguimos coletar explêndidos relatos e evoluções bem sucedidas em casos que foram atendidos utilizando Pics através da internet e especialmente em alguns casos, atuando ao lado da Assistente Social e a Psicóloga do NASF e os demais psicólogos, da Policlínica e Caps. Nossa profunda gratidão, Diego da Rosa Leal Enfermeiro e Professor Sistêmico Laboratório Vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia (Npics/Geppics/UFSB) Prefeitura de Santa Cruz Cabrália

segunda-feira, março 10, 2014

[195]
Artigo de Revisão
Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2010;12(1):195-200. Available from:
http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/v12n1a24.htm
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Comportamento suicida: fatores de risco e intervenções preventivas
Suicidal behavior: risk factors and preventive interventions
Comportamiento suicid
a: factores de riesgo y intervenciones de prevención
Kelly Piacheski de Abreu
I
, Maria Alice Dias da Silva Lima
II
, Eglê Kohlrausch
III
, Joannie Fachinelli Soares
IV
I
Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Bolsista de Inic
iação Científica (PIBIC). Porto
Alegre, RS. E-mail:
kelly.piacheski@ufrgs.br
II
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Escola de Enfermagem (EENF) da UFRGS. Porto Alegre, RS. E-mail:
malice@enf.ufrgs.br
III
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem da UFRGS. Professora Assistente da EEN
F/UFRGS.
Porto Alegre, RS. E-mail:
eglek@hotmail.com
IV
Acadêmica de Enfermagem da UFRGS. Membro do
GESC. Bolsista PIBIC. Porto Alegre, RS. E-mail:
joannie_fachi@yahoo.com.br
RESUMO
As taxas de suicídio evidenciam um problema de saúde pública, e ações preventivas são necessárias. O objetivo deste
artigo de atualização é discorrer sobre fatores de risco para o comportamento suicida e as possíveis intervenções
utilizadas para sua prevenção na atenção primária à saúde. Os fatores de risco mais importantes para comportamento
suicida são: transtornos mentais, antecedentes familiares, sexo, idade, relações familiares, abuso de substâncias,
problemas físicos e situação social desfavorável. Considerando que os usuários com comportamento suicida tendem a
procurar auxílio nos serviços de atenção primária ante
s de morrer, é possível identificar a presença desse
comportamento. O foco de implementação do cuidado deve
ser direcionado àqueles que se enquadram em situações
de agravos que predisponham às tentativas de suicídio. Po
r isso, o conhecimento dos fatores de risco e intervenções
preventivas para o comportamento suicida pode trazer benefícios para a comunidade e profissionais de saúde,
garantindo um cuidado seguro e tecnicamente orientado. Pa
ra isso é necessária a sensibilização dos profissionais de
saúde para o uso de tecnologias relacionais, bem como estratégias de acolhimento e vínculo para a identificação dos
fatores de risco, bem como a estruturação de ações em saúde mental para serem desenvolvidas com suas
comunidades e escolas.
Descritores: S
uicídio; Tentativas de suicídio; Atenção primária à saúde; Prevenção primária.
ABSTRACT
Suicide rates evidence a public health problem so that prev
entive actions are needed. The objective of this updating
article is discussing about risk factors that involve the suicidal behavior and the possible interventions for its
prevention in the primary health care. The most important risk factors related to suicidal behavior are: mental
disorders, family background, sex, age, family relationship
, drugs abuse, physical prob
lems and unfavorable social
condition. Considering that users with suicidal behavior tend to
look for help in the primary health care services before
dying, it is possible to prevent suicide attempts. It is necessary to provide education and habilitation for health
professionals, who are active in the primary health care in order to help detecting suicide risk factors. Within this
sector, the focus of care implementation must be generaliz
ed and addressed to certain populations; besides, the
approach must be collective an
d the programs developed with the purpose of comprising all of the subjects. The
knowledge of risk factors and preventive interventions agai
nst suicidal behavior provides benefits for the community
and health professionals as well. Besides such knowledge, in
vestigation and follow-up of the identified cases must be
carried out in primary health care.
Descriptors:
Suicide; Suicide attempts; Primary health care; Primary prevention.
RESUMEN
Las tasas de suicidio demuestran un proble
ma de salud pública, siendo necesarias acciones preventivas. El objetivo de
este artículo de actualización es discurrir acerca de los
factores de riesgo que envuelvan el comportamiento suicida y
las posibles intervenciones para su prevención en la atención primaria de salud. Los factores de riesgo más
importantes para el comportamiento suicida son: trastornos mentales, antecedentes familiares, sexo, edad, relaciones
familiares, abuso de substancias, problemas físicos y condición social desfavorable. Considerando que los usuarios con
comportamiento suicida tienden a buscar auxilio en los serv
icios de atención primaria antes de morir, es posible
prevenir tentativas de suicidio. Se hace necesaria la educación y la capacitación de los profesionales de salud que
actúan en la atención primaria de salud para auxiliar en la detección de factores de riesgo para el suicidio. En ese
sector, el foco de la implementación del cuidado debe se
r generalizado y direccionado a determinadas poblaciones; el
enfoque debe ser colectivo y los programas, desarrollados con la finalidad de abarcar a todos los individuos. El
conocimiento de los factores de riesgo e intervenciones preventivas para el comportamiento suicida traen beneficios
para la comunidad y para los profesionales de salud. En la atención primaria de salud, además de estos
conocimientos, deben ocurrir la investigación y el acompañamiento de los casos identificados.
Descriptores:
Suicidio; Intento de suicidio; Atención primaria de salud; Prevención primaria.
[196]
Abreu KP, Lima MAD, Kohlrausch E, Soares JF. Comportamento suicida: fatores de risco e intervenções preventivas
Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2010;12(1):195-200. Available from:
http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/v12n1a24.htm
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INTRODUÇÃO
O suicídio é um problema com várias causas. É
uma ação que está ligada a fatores biológicos e
psicológicos associados ao contexto sócio-
econômico
(1)
. Entretanto, a despeito da abundante
produção científica sobre o assunto, as pesquisas já
realizadas parecem não estar contribuindo para a
redução da incidência dos casos, pelo contrário, há
uma tendência de aumento em vários países
(2)
.
As taxas de tentativas de suicídio são,
aproximadamente, dez vezes maiores que as taxas
de suicídios consumados. Ou seja, aproximadamente
uma em dez tentativas de suicídio termina em
morte
(3)
. No ano de 2000, aproximadamente 815 mil
pessoas se suicidaram no mundo, ou seja, a taxa de
mortalidade por suicídio é de 14,5/100.000
habitantes, representando um suicídio a cada 40
segundos
(4)
.
O suicídio não é um gesto com mecanismos bem
esclarecidos, são diversos os fatores de risco que
requerem compreensão num complexo paradigma
social e comportamental. O modelo biomédico
justifica o comportamento suicida como sendo o
resultado final de um transtorno psiquiátrico com
causas apenas biológicas. Analisa o suicídio como
resultado de uma doença/injúria, com enfoque
fisiopatológico. Porém, é necessário ter o
conhecimento de quanto o biológico contribui para o
indivíduo, sua história de vida, circunstâncias e
desenvolvimento
(5)
.
Neste sentido, observa-se que o comportamento
suicida é um tema tabu, tendo em vista a
complexidade do gesto. O comportamento suicida
confronta-se com o instinto de sobrevivência inerente
aos humanos. É difícil compreender como alguém
idealiza e planifica sua própria morte, escolhe o
método que vai utilizar para isto e o ponha em
prática. Possivelmente, a vontade de se aliviar de
um sofrimento emocional intolerável proporciona
uma aproximação do sujeito com as diversas formas
de comportamento suicida.
Comportamento suicida é definido como uma
ação na qual o individuo inflige-se dano (auto-
agressão), não importando o nível ou a razão
genuína da ação. Uma definição ampla dessa forma
permite que se conceitue o comportamento suicida
por meio de um contínuo: os pensamentos de
autodestruição, a auto-agressão, manifestada por
gestos suicidas e tentativas de suicídio, e, finalmente,
o próprio suicídio
(6)
.
Por isso o termo comportamento suicida se
refere à ação de auto-agressão, bem como variáveis
relacionadas às tentativas de suicídio, com alta ou
baixa letalidade, que ocorrem dentro de um contexto
social, e trazem elementos que indicam a procura de
ajuda. É necessário levar em consideração o plano
suicida, o desejo de morrer contra o de viver, e as
possibilidades de alguém descobrir o plano suicida
para avaliar a intensidade do comportamento suicida.
A ideação suicida sem tentativa de suicídio é mais
comum do que o comportamento suicida
fatal ou
não
(3)
.
O tema suicídio demanda a atenção de
profissionais de diversas áreas que possam tratar dos
riscos e das possibilidades de prevenção
(1)
. É preciso
levar em consideração que, atualmente, as situações
sociais, como empregabilidade e desemprego,
estrutura familiar, condições socioeconômicas,
padrão de possibilidades de consumo de insumos,
como roupas, alimentos e lazer, aceitação no meio de
convivência, entre outros fatores, interagem com as
predisposições biológicas para o aparecimento do
comportamento suicida
(4)
.
Assim, uma abordagem interdisciplinar,
analisando questões socioculturais e filosófico-
existenciais além dos aspectos fisiopatológicos,
torna-se necessária para que se tenha uma
explicação satisfatória dos motivos e causas que
levam os indivíduos a tentar e consumar a
autodestruição
(5)
.
Para uma abordagem interdisciplinar para
atendimento ao comportamento suicida precisa-se de
uma organização do trabalho baseada no trabalho em
equipe, que requer intervenções técnicas e interação
entre os profissionais, que, de maneira coordenada,
colocam em prática seus planos de ação. A
comunicação, a articulação das ações e a
compreensão das diferenças técnicas tornam-se
indispensáveis para que a equipe consiga alcançar
seus objetivos. Portanto, a soma dos saberes das
diversas profissões envolvidas no ato de cuidar
colabora para que a situação seja abordada da forma
mais integral possível, e que seja garantida a
preservação da vida.
Foi identificado que mais de 75% das vítimas de
suicídio procuraram um serviço de atenção primária à
saúde no ano de sua morte e 45% no mês que
cometeram suicídio
(6)
. Portanto, para a prevenção do
comportamento suicida, os profissionais da área de
saúde pública desempenham papel fundamental na
detecção precoce de fatores de risco.
Considerando as taxas nacionais e a importância
das equipes da atenção básica, em 2006, o Ministério
da Saúde apresentou a Estratégia Nacional para
Prevenção do Suicídio, pela Portaria GM nº 1.876,
com a intenção de diminuir as taxas de suicídios e
tentativas. Esta estratégia prevê sua implantação em
parceria com a atenção básica, buscando o modelo
de redes de cuidado, de base territorial e atuação
transversal com outras políticas específicas,
proporcionando vínculo e acolhimento. A ideia é que
as equipes da Estratégia de Saúde da Família (PSF)
sejam apoiadas por equipes matriciais para atender
os casos de saúde mental no território de sua área
adscrita
(7)
.
[197]
Abreu KP, Lima MAD, Kohlrausch E, Soares JF. Comportamento suicida: fatores de risco e intervenções preventivas
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Assim, tendo em vista a relevância do tema, o
objetivo deste artigo de atualização é discorrer sobre
fatores de risco para o comportamento suicida e as
possíveis intervenções utilizadas para sua prevenção
na atenção primária à saúde. Pretende-se contribuir
para que os profissionais que se deparam com
usuários com comportamento suicida possam
entender melhor o gesto, ter conhecimento sobre a
situação epidemiológica e planejar estratégias de
prevenção.
Fatores de risco para comportamento suicida
Os fatores de risco mais importantes para
comportamento suicida são: transtornos mentais os
quais estão presentes em mais de 90% daqueles que
cometem suicídio, antecedentes familiares, sexo,
idade, relações familiares, abuso de substâncias,
problemas físicos, principalmente aqueles que
causam invalidez e/ou dor crônica e situação social
desfavorável, como pobreza e desemprego
(3)
.
No Brasil, um estudo investigou as taxas de
suicídio entre 1980 e 2000, fazendo uma comparação
com a situação epidemiológica mundial, considerando
idade e sexo. Os resultados apontaram que os índices
globais de suicídio cresceram 21% em 20 anos, que
os homens suicidam-se 2,3 a 4 vezes mais que as
mulheres e que os idosos acima de 65 anos
apresentaram as taxas mais elevadas. Os jovens
entre 15 e 24 anos apresentaram o maior
crescimento
(8)
.
Além disso, existem diferenças entre os sexos
em relação à letalidade do comportamento suicida
em função das construções de gênero. As mulheres
escolhem métodos menos invasivos para não
perderem a beleza, enquanto os homens preferem
métodos que evidenciem sua virilidade. As mulheres
têm comportamento suicida com mais frequência e
fazem mais tentativas, entretanto, os homens
cometem mais suicídio. Essa diferença entre
tentativas e atos consumados entre os sexos pode
ser explicada pelo fato de que os homens, por
utilizarem métodos mais letais, como armas de fogo
e enforcamento, são mais efetivos nas suas
tentativas de suicídio do que as mulheres, em que
predominam as tentativas por envenenamento
(9)
.
Existem ainda, além dos fatores de risco já
mencionados, problemas no nível psíquico, como
ansiedade, impulsividade, transtornos de humor,
transtornos afetivos, baixa auto-estima, sentimentos
de desesperança e solidão, sofrimento intenso,
frustrações, estresse, esquizofrenia, e psicopatologias
em geral, que agravam a situação. Nesse nível
destaca-se a depressão, que é fator de alto risco para
suicídio, e que está cada vez mais presente na vida
dos seres humanos, podendo encontrar-se desde
etapas precoces da vida, como a lactância
(10)
.
Em relação à percepção de sintomas
depressivos, foi realizado um estudo quantiqualitativo
contemplando as questões culturais, em Santa
Catarina, investigando as comunidades açoriana,
italiana e alemã. Os grupos evidenciaram diferenças
na manifestação dos sintomas depressivos,
evidenciando formas próprias de expressão desses
sintomas, de acordo com a cultura
(11)
.
Também os conflitos familiares se destacam
como importante fator de risco para o suicídio.
Problemas como dificuldades de relacionamento e de
comunicação, ausência de afeto e falta de apoio
familiar por vezes estão na origem de
comportamentos suicidas. A disfuncionalidade
familiar é um risco ainda maior para crianças e
adolescentes, visto que as relações familiares são
importantes no desenvolvimento do indivíduo
(1)
. Em
contrapartida, o ato suicida ocasiona desajuste no
funcionamento familiar, visto que os outros membros
da família fazem uma avaliação dos seus atos,
podendo gerar um sentimento de culpa
(12)
. Ademais,
a presença de familiares que tentaram ou cometeram
suicídio é um fator agravante para o comportamento
suicida. Estas informações ressaltam que a família
funcional é um fator de proteção aos agravos em
saúde mental, e, portanto, as ações dos profissionais
de saúde precisam ser direcionadas não somente ao
indivíduo, mas também ao grupo familiar.
O comportamento suicida pode ter origens
genéticas. Há evidência crescente de que os fatores
genéticos influenciam a predisposição ao suicídio,
visto que a hereditariedade do comportamento
suicida é comparável à hereditariedade de
transtornos psiquiátricos, como transtorno do humor
e esquizofrenia
(3)
.
Evidencia-se que o risco para comportamento
suicida é uma conjugação entre o biológico e o
psicossocial, um potencializando o outro. Dessa
forma, as ações de prevenção devem ser realizadas
contemplando a atenção integral ao indivíduo. O
exercício de solidariedade, juntamente com as
condições de adaptação do indivíduo ao sofrimento
psíquico, é um fator relevante ao tratar usuários com
comportamento suicida.
A integralidade do cuidado em saúde mental
deveria ser entendida não apenas como uma diretriz
do Sistema Único de Saúde (SUS), mas como um
compromisso dos profissionais com os usuários. Essa
ideia remete ao fato de que estratégias relacionais,
como acolhimento e vínculo, são fundamentais para
que os profissionais possam identificar, se aproximar
e intervir de forma resolutiva com os usuários com
comportamento suicida.
Além dos fatores de risco para o suicídio,
existem fatores protetores contra o suicídio, como
morar com outras pessoas, ter religião, filhos e/ou
companheiros
(13)
.
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Abreu KP, Lima MAD, Kohlrausch E, Soares JF. Comportamento suicida: fatores de risco e intervenções preventivas
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Intervenções para prevenção do
comportamento suicida
O usuário com comportamento suicida apresenta
três características principais: ambivalência,
impulsividade e rigidez. O profissional de saúde deve
encontrar alguma forma de aumentar o desejo pela
vida, fornecendo, se possível, auxílio no momento do
impulso suicida. O estabelecimento de um contrato
de não suicídio entre o profissional, usuário e família
pode ser firmado, visando à manutenção da vida
(14)
.
Visto que o suicídio é um ato complexo e
multifatorial, cada caso deve receber intervenção
específica. Um evento estressor pode gerar
comportamento suicida, neste caso a intervenção
indicada é a realização de acompanhamento desses
indivíduos com risco para suicídio, desmistificando o
significado que o ato representa para o usuário
(3,15)
.
Entende-se que saúde mental engloba um
conjunto de requisitos, e não se reduz à ausência de
psicopatologias. Para que a condição de saúde seja
mantida são necessários outros fatores, como
condições sócio-econômicas favoráveis que permitam
ao indivíduo o acesso a necessidades básicas, como
moradia, alimentação, lazer, cultura e educação.
Considerando que os usuários com
comportamento suicida tendem a procurar auxílio nos
serviços de atenção primária antes de morrer, é
possível prevenir tentativas de suicídio. Para tanto,
faz-se necessária a educação e a capacitação de
profissionais que atuam na atenção primária à saúde
para auxiliar na detecção de fatores de risco para
suicídio, principalmente a depressão, prevenindo
tentativas de suicídio
(14)
.
Apesar de o transtorno depressivo representar
importante fator de risco para o problema, um estudo
recente demonstrou que médicos que atuam na
atenção primária à saúde questionam apenas metade
dos usuários com depressão sobre o comportamento
suicida
(16)
.
Ações que auxiliam na prevenção do
comportamento suicida visam à promoção da saúde
mental, como grupos de auto-ajuda e a criação de
condições psicossociais que estimulem a participação
da comunidade por meio de atividades educativas
que integrem socialmente os indivíduos, promovendo
um estilo de vida saudável
(17)
.
Um estudo explorou características dos suicídios
que ocorreram no município de Teresina (Piauí), com
o intuito de subsidiar os profissionais de saúde em
busca da diminuição das taxas de suicídio. Para
tanto, equipes da atenção primária que trabalham
inseridas na comunidade e dividem a área de
abrangência em microáreas, podem gerar
informações que servem como base para
intervenções que são imprescindíveis no processo
preventivo
(9)
.
A equipe de enfermagem, principalmente na
atenção primária à saúde, possui bom vínculo com a
comunidade, o que possibilita a identificação de
fatores de risco para o suicídio e, conseqüentemente,
sua prevenção. A atuação desses profissionais tem a
finalidade de promover mudanças no estilo de vida,
analisar o ambiente onde o usuário encontra-se
inserido, procurar fatores de risco, ajudar na
identificação e tratamento de injúrias que possam
trazer complicações e auxiliar na inserção dos
usuários que tentaram o suicídio na comunidade
(18)
.
As enfermeiras consideram os agentes comunitários
de saúde, que não pertencem à equipe de
enfermagem, mas que, em geral, ficam sob
supervisão delas, são os maiores responsáveis pela
identificação do comportamento suicida, dada sua
proximidade com a comunidade em que
trabalham
(19)
.
Na atenção primária à saúde, o foco de
implementação do cuidado deve ser direcionado
àqueles que possam ser incluídos em situações de
agravos que predisponham às tentativas de suicídio.
Para a prevenção do comportamento suicida são
necessárias ações como a realização de programas
em escolas e na comunidade. A redução do consumo
e abuso de álcool e drogas entre jovens, programas
que visem à redução da violência entre homens de
25 a 55 anos e remoção de barreiras que dificultam o
acesso da população à saúde mental são exemplos
de ações que atuariam de forma positiva para a
redução dos índices de comportamento suicida
(20)
.
Os dados epidemiológicos indicam que as
mulheres e idosos procuram mais a atenção primária
à saúde do que homens jovens antes de cometerem
suicídio. Dessa maneira, a prevenção do
comportamento suicida deve envolver a atenção
primária à saúde com intervenções para prevenir o
suicídio em idosos e mulheres. Uma forma alternativa
para prevenção do suicídio em homens jovens com
risco para suicídio deve ser criada, visto que homens
jovens procuram menos os serviços de saúde
(6)
.
(16)
.
Sabe-se que transtornos mentais ocasionam
comportamento suicida. Programas educativos e de
conscientização para profissionais de saúde,
comunidade e cuidadores de usuários com
comportamento suicida seriam eficazes para prevenir
tentativas de suicídio somente se associados ao
acompanhamento contínuo desses indivíduos, bem
como ao tratamento psicoterápico e farmacológico. O
acesso aos possíveis meios letais deve ser
restringido, e o planejamento de métodos suicidas
[199]
Abreu KP, Lima MAD, Kohlrausch E, Soares JF. Comportamento suicida: fatores de risco e intervenções preventivas
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http://www.fen.ufg.br/revista/v12/n1/v12n1a24.htm
.
precisa ser deve investigado
(7,16)
. Portanto, os
profissionais da atenção básica precisam se apropriar
de estratégias que os tornem próximos dos usuários,
para que estes tenham uma relação de confiança e
vínculo que permita expressar seu desejo de suicídio,
bem como manifestar de que forma pensam em
colocar isso em prática. Além disso, a forma que
determina de que maneira serão relatados casos de
suicídio na mídia é importante para evitar a imitação
do gesto
(16)
.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O comportamento suicida constitui-se em
preocupação para a sociedade como um todo e, em
especial, para os profissionais de saúde.
Nos serviços de saúde, a atuação das equipes na
identificação de fatores de risco e a utilização de
estratégias preventivas para esta condição podem
proporcionar mais segurança e confiança nos
indivíduos com este agravo e suas famílias. No
âmbito da atenção primária à saúde evidencia-se
ainda mais a possibilidade de realização de
intervenções preventivas.
Os profissionais de saúde, nesse nível de
atenção, podem tornar-se aptos para realizar
intervenções seguras, tecnicamente fundamentadas,
que estimulem a proteção à vida. Isso implica em
proximidade com os indivíduos e suas famílias,
atenção voltada para a prevenção e habilidade para
exercer suas funções profissionais, pelo fato de
estarem na mesma área em que convivem as
pessoas que são atendidas.
Portanto, as práticas na atenção primária à
saúde precisam contemplar ações com objetivo de
prevenir o comportamento suicida. Para
planejamento e implementação dessas ações, há
necessidade de que existam, além do conhecimento
sobre os fatores de risco, a estruturação e a
sistematização de formas de investigação desses
fatores e o acompanhamento dos casos identificados,
bem como a necessidade de que os profissionais das
equipes de saúde tenham as informações pertinentes
sobre a realidade de saúde da população que
atendem.
No entanto, mesmo considerando a forma de
organização e planejamento das ações na atenção
básica, estruturadas de acordo com territorialidade e
adscrição, nem sempre as equipes de saúde sentem-
se preparadas para intervir em relação ao
comportamento suicida, possivelmente por acharem
que esse problema é para os especialistas.
Neste sentido, a composição interdisciplinar da
equipe é fundamental para que, mesmo sem
especialistas, vários saberes se complementem para
o atendimento ao comportamento suicida. A visão
própria que cada disciplina tem, agregada a outras,
contribui para a integralidade do atendimento.
Mesmo que os profissionais de saúde da atenção
básica estejam em contato direto com os indivíduos,
em sua própria comunidade, com oportunidade de
acesso sobre as condições de saúde em geral, e,
neste caso específico, sobre o comportamento
suicida, existem muitas dificuldades.
A formação de uma rede de atenção, onde se
incluem os Centros de Atenção Psicossocial, os
Residenciais Terapêuticos, as Oficinas de Geração de
Renda, dentro outros equipamentos, que poderiam
dar suporte para as equipes da atenção básica, ainda
é muito tênue, tendo mais espaços do que pontos de
intersecção, fato que complica o acompanhamento
fora da unidade de saúde.
Além disso, a estratégia de matriciamento das
equipes da atenção básica encontra-se em um
processo de implantação incipiente, e as equipes
estão pouco sensibilizadas para as tecnologias
relacionais, como o acolhimento e vínculo, que
proporcionam uma maior aproximação e
responsabilização com a população atendida. E,
ainda, seria necessário que as equipes da atenção
básica estruturassem ações em saúde mental para
serem desenvolvidas com suas comunidades, não só
no sentido da identificação de psicopatologias, mas
na direção da promoção da saúde, levando-se em
conta a esfera da micropolítica de saúde.
E, ainda, os órgãos governamentais municipais
poderiam colaborar, colocando efetivamente em
prática a Política Nacional de Saúde Mental e as
metas da Estratégia Nacional de Prevenção do
Suicídio, em nível da macropolítica de saúde.
Certamente a tarefa de prevenir o
comportamento suicida não é fácil, muitas vezes
frustra o profissional da atenção básica, que se sente
despreparado e sem ter a quem recorrer para discutir
as situações encontradas.
No entanto, é um problema que está posto, e
representa um olhar para além da questão biológica,
sendo necessário melhorar a qualidade de vida e
considerar as possibilidades de realização de cada
um, levando em conta as diferenças existentes entre
os usuários e respeitando as condições e
potencialidades individuais.
REFERÊNCIAS
1. Minayo MCS, Cavalcante FG, Souza ER.
Methodological proposal for studying suicide as a
complex phenomenon. Cad Saude Publica.
2006;22(8):1587-96.
2. Meneghel SN, Victora CG, Faria NMX, Carvalho LA,
Falk JW. Características epidemiológicas do suicídio
no Rio Grande do Sul. Rev Saude Publica.
2004;38(6):804-10.
3. Mann JJ. A current perspective of suicide and
attempted suicide. Ann Intern Med.
2002;136(4):302-11.

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