Data: 07/03/2014
Aluno: Francisco Hélio Oliveira Júnior
Resenha Crítica
Tema : Reforma Psiquiátrica
Casa dos Mortos até quando?
A Casa dos Mortos, um curta-metragem produzido pelo Ministério Da Saúde do Brasil, foi realizado através de imagens e entrevistas colhidas no HCT- Manicômio Judiciário de Salvador –BA, com o objetivo de transmitir ao telespectador os principais aspectos ou características, bem como, de uma forma geral e menos detalhista, as rotinas e programas de tratamento em saúde mental, desse tipo de instituição.
Esse curta, não aborda diretamente os profissionais envolvidos, da instituição, e sim pesquisa relatos de vivências dos pacientes , que por sua vez, são indivíduos portadores de transtornos mentais, que segundo o Poder Judiciário os influenciaram a cometer certos crimes e, por isso, cumprem pena na instituição reformatória.
Os produtores do filme ainda destacam que, o regime manicomial no atendimento à esses indivíduos, não têm demonstrado um resultado positivo, pois muitos dos internos, que têm seu tratamento finalizado, acabam retornando à casa, devido à recaídas de seus transtornos correspondentes, dentre muitos outros casos como o do interno Jaime, que se suicida, durante o período em que foram realizadas as gravações.
Está claro, ao se assistir a Casa dos Mortos, que o Ministério aborda seu ponto de vista, com relação ao regime manicomial brasileiro, como um sistema que a cada dia que passa se torna mais obsoleto, já que demonstra uma grande ineficácia por parte do tratamento ao deficiente mental. O filme praticamente “grita” por uma Reforma Psiquiátrica, que um dia possa tornar mais humana e integral a assistência a essa classe de pacientes.
A Reforma Psiquiátrica, como o nome já diz, é um movimento internacional, por parte do profissionais de saúde mental, que teve sua origem e ascensão teórica, pelo menos aqui no Brasil, no auge da democracia, onde os direitos humanos tomam um grande impulso de reconhecimento por parte da população, que passa a questionar o que fere ou não seus princípios.
Esse tipo de reforma surge então, com o objetivo de abolir esse sistema medieval de tratamento aos portadores de transtornos psíquicos, onde os mesmo são privados de seus direitos à vida digna e liberdade, pois são isolados, drogados e muitas vezes torturados, por representarem uma ameaça direta e constante à integridade social. Dessa maneira, a reforma visa um atendimento mais humano desses pacientes, onde possam ser abordadas todo o seu corpo biopsicossocial.
Quando se fala em tratamento do corpo biopsicossocial , quer dizer uma sistematização por parte dos profissionais de saúde da área (principalmente os enfermeiros), que contemple todas as esferas da vida do cliente, para que seu transtorno possa ser compreendido e contextualizado, onde então serão traçados planos de cuidado, que não necessitem de internamento, nem uso constante de drogas psicoativas, muito menos de terapias torturantes, cujos principais métodos são brutais e podem ser vistos em museus da história medieval.
Eu como estudante de Enfermagem, acredito na Reforma Psiquiátrica e simpatizo com o objetivo do filme, que está se tornando a cada dia que passa mais realista e ao alcance dos profissionais de saúde. Hoje em dia nós temos um grande avanço do SUS, com relação a essa temática, que é nada mais nada menos, do que a criação dos Centros de Assistência Psicossocial (CAPS).
O CAPS, é uma instituição voltada para fins preventivos, onde pessoas vítimas de síndromes mentais, são tratadas a fim de não desenvolverem surtos sérios, correspondentes à suas doenças, que possam gerar danos à vida da sociedade, bem como suas punições que “fabricam” os manicômios como o da Casa dos Mortos. A abordagem dessas instituições são basicamente a de conversações, terapias sociais e cognitivas a fim de inserir o indivíduo em uma vida social normal, livre de preconceitos e danos.
Este tipo de abordagem é muito útil na recuperação do cliente, onde podem ser reduzidos os preconceitos, o autopreconceito, além dos distúrbios físicos que as síndromes causam, sem contar que é um enorme passo para a consolidação de um sonho reformista, por parte de mentes vanguardistas, que trarão “luz” á saúde mental, bem como conquistas que tornarão a sociedade brasileira mais humana e universal.
Como estudante da Saúde Mental e defensor do pensamento crítico e reflexivo, minha opinião é a de que, no dia em que forem fechados todos os manicômios existentes em todo o nosso território e as abordagens do CAPS, passarem por aperfeiçoamento, nesse dia os profissionais da saúde mental passarão a se sentir mais úteis e a saúde poderá se elevar à um grau mais humano e amplo, porém para isso deve-se deixar claro a importância do treinamento de recursos humanos que estão por vir.
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